Ao participar do seminário de testes de software “Test Day 2012” me chamou muito a atenção coisas que não vi,e uma única palestra que comentou algo sobre o tratamento de aspectos de segurança em testes de software, e conversando com um colega que lá estava que me comentou que ele já não dava conta de fazer o trabalho dele, quanto mais ter que cuidar de segurança e que isto ele deixava para os especialistas em Security Testing feito eu, que este não era o campo dele. Confesso que na hora lembrei muito da lendária história do IBM Black Team, que fiquei conhecendo pela primeira vez no livro Peopleware – Productive Projects and Teams – de Tom DeMarco e Timothy Lister.
Este time, tem uma história muito peculiar, muito lendária pois há poucos registros históricos sobre eles. Mas mesmos assim, eles tem gerado admiração por aqueles que ouvem falar sobre eles. Principalmente porque em sua época muitos desenvolvedores aspiravam participar do time e o que acontece hoje é o contrário, muitos testers tem como sonho se “qualificar” para se tornar desenvolvedor, o que por um certo lado é uma grande distorção senão um grande desequilíbrio da força.
Na década de 60 e 70, a realidade na computação era muito diferente dos dias atuais, além dos computadores serem extremamente caros e a cultura em relação a própria computação era muito diferente da existente nos dias atuais, o que muitos de nós ouvimos por várias fontes, inclusive muitas apócrifas e muitas de pessoas que não viveram aquela época. Na inauguração do Laboratório de Garagem, que ocorreu em 2010 justamente num dia onde eu estava muito envolvido com um Seminário de RTOS mas fiz um grande esforço para estar lá e compensou, pois entre várias pessoas super interessantes que lá re-encontrei e conheci, encontrei uma notória figura, que para quem (como eu) começou a brincar (e trabalhar) com computadores na década de 80 deve ter no mínimo folheado alguns dos livros que o mesmo lançou pela Editora Aleph. E conversando com esta figura, ouvi muitas histórias da computação na década de 70 . Ouvindo as histórias deste pioneiro da computação no Brasil, muitas boas por sinal, ouvi algumas confirmações sobre o que até então eu só havia lido e percebi que ele também nutria uma admiração pelas histórias do IBM Black Team, o que achei muito interessante.
Uma das grandes diferenças que haviam na cultura de entrega de sistemas na década de 60 e 70, é que (apesar de toda complexidade na construção de sistemas computacionais) os clientes exigiam que o sistemas funcionasse corretamente, e muito diferente de hoje no qual criou-se uma cultura multilateral de tolerâncias aos bugs de software, onde um defeito bloqueava o pagamento de um sistema. Por outro lado, a interoperabilidade era quase nula, e um novo modelo de computadores significava que o desenvolvimento de um sistema operacional e de aplicativos deveriam ser realizados a partir do zero. E neste contexto, defeitos eram “quase” inevitáveis e estes custavam muito para a IBM, onde eles precisavam fazer algo para reduzir seus prejuízos.
Avaliando como melhorar a qualidade de seus sistemas, alguns gestores notaram que cerca de 10 a 20 por certo do time de SQA eram mais eficientes em encontrar defeitos que seus pares. Desta forma, eles tiveram a idéia de formar um time com estes testers mais eficientes para testarem os componentes de sistemas mais críticos.
A expectativa é que este time fosse 20% mais eficiente que seus pares, porém com a missão bem clara e com objetivos bem determinados, o que ocorreu é que eles começaram a trabalhar em conjunto para desenvolver técnicas de testes que os tornaram dezenas de vezes mais eficientes que seus pares. E como comentei no início, eles queriam ser tratados como “code breakers”. E assim os desenvolvedores não conseguiam os ver mais como “amigos” mas sim como vilões, passando a ser odiados e detestados além de extremamente admirados. Sendo-se que por isto eles ganharam muito minha simpatia, pois tratando segurança de aplicações, já passei por situações no qual fui tratado com grande antipatia e medo.
E logo alguns começaram a dizer que eles não tinha o espírito IBM, que eles não eram “blue” mas sim “black”, e entrando no clima eles passaram a ir trabalhar vestidos de preto, e não com os tradicionais ternos azul-escuro com camisas brancas engomadas, que foi o que fez eles serem chamados de IBM Black Team.
E não só isto, eles começaram a comemorar cada defeito encontrado, e a ultrapassar os limites da roupa black, segundo a lenda alguns deixaram a barga crescer a terem bigodes que eles ficavam torcendo quando encontravam alguns bugs, sem contar que os próprios procedimentos de testes começaram a ir muito além tornando o time cada vez mais eficiente e aumentando cada vez mais sua popularidade entre os gestores de testes e com a diretoria de desenvolvimento de sistemas.
Na época, a IBM não era conhecida exatamente por ser um celeiro criativo, mas sim como uma empresa com rígidas regras, porém como a qualidade de software passou a melhorar exponencialmente e a como a paixão e a dedicação do grupo que era responsável por este salto de qualidade começou a inspirar admiração, parte de seu comportamento foi tolerado e eles foram ganhando cada vez mais liberdade, ou tolerância pela gestão da empresa.
Porém, o Black Team, começou a levar as coisas por um outro lado e começaram a ter uma atitude nada camarada com o seus colegas desenvolvedores. E o que antes era respeito, começou a se tornar medo e logo desprezo. Há lendas que alguns programadores choravam ao ver os membros de tal time, prova de que as coisas estavam ficando meio desequilibradas.
E por mais que o IBM Black Team era temido, os programadores e engenheiros aspiravam fazer parte deste time. E quando um membro saia, a própria equipe realizava o processo de seleção do membro para preencher estas vagas, desta forma mesmo quando todos os membros originais haviam saído o time manteve sua excelência.
Por outro lado, os desenvolvedores não queriam ser expostos com um desenvolvedor que fosse exposto ao Black Team.
Muito se especula sobre este time, mas o fato é que eles se tonaram uma lenda na indústria de computadores, muito porque eles eram capacitados, se envolviam muito com seu trabalho, tinham orgulho de sua missão e do que faziam, se sentiam valorizados pela empresa ter respeitado sua postura e pelo espaço que eles conquistaram, criaram tendências e influenciaram a indústria e principalmente, eles foram motivados e se dedicaram muito ao objetivo do time.
Agora, voltando aos dias de hoje, porque os times de testes falham? Bem este já é um tema para uma série de posts, sem contar que para responder melhor é necessário traçar perfis de times de desenvolvimento, visto que há times de testes diferentes em tipos de empresas diversas; sem contar os casos onde esta figura não existe por grandes distorções e equívocos.
Fontes:
http://www.geekosystem.com/ibm-black-team/
http://www.penzba.co.uk/GreybeardStories/TheBlackTeam.html
Deixe um comentário